Resumo sobre o evento ‘O Futuro do Patrimônio Bibliográfico Ibero-americano na Era Digital’

A mesa redonda intitulada “O Futuro do Patrimônio Bibliográfico Ibero-americano na Era Digital”, organizada pela Biblioteca Nélida Piñon do Instituto Cervantes, no Rio de Janeiro e pela Sociedade Bibliográfica Brasileira (SBB) em associação com a Escola de Biblioteconomia da UNIRIO, reuniu renomados especialistas do Brasil, Espanha, Portugal, México, Argentina e Peru para explorar os desafios e oportunidades que o patrimônio bibliográfico nacional enfrenta em meio às rápidas transformações tecnológicas na Web.

O evento enfatizou a importância da digitalização, preservação, acesso, recuperabilidade da informação em longo prazo, cooperação entre instituições e a integração de abordagens digitais humanísticas para salvaguardar, difundir e democratizar acervos bibliográficos.

Os palestrantes apresentaram panoramas detalhados de suas experiências profissionais, destacando projetos de digitalização sistêmica, marcos legais institucionais em evolução e o papel crucial da formação e capacitação de profissionais. Eles discutiram a coexistência de acervos analógicos e digitais, a necessidade de estratégias de preservação sustentáveis e a importância do engajamento dos usuários, especialmente das gerações mais jovens. Os diálogos também abordaram desafios emergentes, como o impacto da inteligência artificial na catalogação, o problema da obsolescência da informação digital e a necessidade de certificação para garantir a autenticidade digital.

O evento destacou que a preservação do patrimônio bibliográfico não é apenas um esforço técnico, mas também uma responsabilidade cultural que exige colaboração, inovação e uma visão compartilhada em todos os países Ibero-americanos. Os participantes concordaram que, embora a tecnologia traga possibilidades sem precedentes de acesso e pesquisa, ela também exige políticas e práticas ponderadas para manter a integridade, a usabilidade e a relevância do patrimônio bibliográfico para as gerações presentes e futuras.

Fonte: o autor com recursos do Gerador de imagem Microsoft (2025)

Destaques

  • 📚 Programas nacionais abrangentes de digitalização estão transformando a gestão do patrimônio bibliográfico na Espanha, Portugal, México, Argentina, Peru e Brasil.
  • 🤝 A cooperação institucional e as redes profissionais, como a ABINIA e a Codicis Erasmus Plus, são fundamentais para o progresso compartilhado na Ibero-América.
  • 💻 Humanidades digitales (Humanidades Digitais) representam uma mudança de paradigma na forma como materiais bibliográficos são pesquisados, ensinados e preservados.
  • 🔍 A preservação envolve materiais analógicos e digitais, enfatizando a natureza complementar das coleções físicas e digitais.
  • 🌍 A digitalização democratiza o acesso, mas enfrenta desafios como obsolescência tecnológica, limitações de financiamento e complexidades jurídicas.
  • 🤖 A inteligência artificial oferece potencial para eficiência de catalogação, mas requer validação humana e considerações éticas cuidadosas.
  • 👩‍🎓 O treinamento contínuo e a colaboração interdisciplinar entre bibliotecários, arquivistas e pesquisadores são cruciais para a sustentabilidade futura.

Principais Insights

  • 📖 Digitalização como imperativo desafio Cultural:
    Países como Espanha e Portugal empreenderam projetos de digitalização em larga escala, apoiados por estratégias nacionais e fundos europeus. As bibliotecas digitais espanholas, como a Biblioteca Digital Hispânica e a Europeana, constituem um modelo de património interoperável e acessível. A Biblioteca Nacional Digital portuguesa, apoiada pelo seu Plano de Recuperação e Resiliência, está a digitalizar mais de 22 milhões de imagens, ilustrando a escala e a complexidade destes esforços. No entanto, a preservação digital não se resume apenas ao volume, mas sim à garantia da qualidade, da precisão dos metadados e da longevidade, exigindo atualizações tecnológicas contínuas e a redigitalização de materiais mais antigos.
  • 🌐 Cooperação Ibero-americana facilita a padronização bibliográfica e acesso aos seus registros:
    O papel da ABINIA e redes relacionadas é fundamental na coordenação de políticas, assistência técnica e plataformas como a Biblioteca Digital do Patrimônio Ibero-americano. Essa colaboração contribui para a harmonização dos padrões de catalogação e facilita o acesso transfronteiriço a recursos bibliográficos histórica e culturalmente interligados, refletindo os legados coloniais de Espanha e Portugal. Projetos conjuntos como o Codicis Erasmus Plus aprimoram a formação e o desenvolvimento de capacidades, abordando as disparidades na disponibilidade de recursos entre os países.
  • 🔬 Humanidades Digitais como fronteira para pesquisas e preservação bibliográficas:
    A ascensão das humanidades digitais introduziu novas metodologias de pesquisa que mesclam o conhecimento tradicional em humanidades com ferramentas computacionais. Essas iniciativas criam edições digitais, permitem a transcrição automatizada e promovem novas formas de disseminação. No entanto, projetos de humanidades digitais e esforços de digitalização de bibliotecas frequentemente operam de forma paralela, em vez de integrada, potencialmente perdendo oportunidades de sinergia. Alinhar as prioridades de digitalização com as necessidades de pesquisa pode otimizar o uso de recursos e aumentar a relevância dos acervos digitais.
  • 🏛️ A preservação se estende além do digital para incluir a materialidade analógica:
    Os palestrantes enfatizaram que os substitutos digitais não substituem os livros e manuscritos físicos, que carregam informações únicas, como encadernações, anotações e materialidade, que as imagens digitais não conseguem capturar completamente. As práticas de conservação devem equilibrar a preservação com o acesso, defendendo a “morte digna” de alguns itens e garantindo a longevidade e a usabilidade de outros. O acesso físico continua vital, especialmente para o estudo sensorial e tátil, destacando os papéis complementares das coleções analógicas e digitais.
  • ⚖️ Restrições legais, éticas e práticas moldam o patrimônio digital:
    leis de propriedade intelectual, restrições de direitos autorais e competências administrativas descentralizadas complicam os esforços para digitalizar e disseminar o patrimônio bibliográfico. Além disso, a escassez financeira, especialmente em países latino-americanos, limita a capacidade de digitalizar de forma abrangente ou manter infraestruturas digitais. A sustentabilidade digital também abrange preocupações ambientais relacionadas ao consumo de energia e à pegada de carbono da digitalização em larga escala e do uso de IA.
  • 🤖 Inteligência Artificial: Promessa e Precaução:
    A IA demonstra um potencial notável para acelerar processos de catalogação, com estudos demonstrando reduções drásticas de tempo em comparação com o trabalho manual. No entanto, as limitações atuais da IA no tratamento de documentos históricos com linguagem arcaica ou formatos complexos exigem supervisão humana para garantir a precisão e a autenticidade. O risco de distorções ou atribuições errôneas geradas pela IA exige um rigoroso controle de qualidade e estruturas éticas. A IA pode complementar, mas não substituir, o trabalho bibliográfico especializado.
  • 👩‍🏫 Capital Humano: Treinamento, Colaboração e Engajamento Comunitário:
    O desenvolvimento profissional contínuo surge como prioridade para acompanhar os avanços tecnológicos. Associações, universidades e projetos colaborativos desempenham um papel crucial no aperfeiçoamento de bibliotecários e arquivistas com habilidades atualizadas. Além disso, o engajamento de diversos grupos de usuários, incluindo jovens, por meio de espaços adaptativos e plataformas digitais garante a relevância contínua do patrimônio bibliográfico. Os programas educacionais devem abraçar a inclusão, a sustentabilidade e a responsabilidade social, fomentando novas gerações de guardiões do patrimônio.

Conclusão

O futuro do patrimônio bibliográfico ibero-americano na era digital é moldado por uma complexa interação de inovação tecnológica, cooperação institucional, marcos jurídicos e expertise humana. A transformação digital oferece oportunidades sem precedentes para preservação, acesso e pesquisa, mas requer planejamento cuidadoso, financiamento sustentável e uma compreensão diferenciada do significado cultural dos materiais bibliográficos.

A mesa redonda destacou a necessidade de promover sinergias entre os universos analógico e digital e entre os esforços de digitalização e a pesquisa em humanidades. Em última análise, a salvaguarda desse patrimônio compartilhado exige uma abordagem de integração com a sociedade e interdisciplinar que valorize tanto a tradição quanto a modernidade, garantindo que os tesouros bibliográficos permaneçam acessíveis e significativos para as gerações futuras.

Nós da SBB acreditamos que este foi o primeiro evento que trará outras contribuições, tais como: cursos, seminários e, futuramente, congressos internacionais.

Por Rodrigo Armada Señorans

Como citar esse artigo:

ARMADA-SEÑORANS. Rodrigo. Resumo sobre o evento ‘O Futuro do Patrimônio Bibliográfico Ibero-americano na Era Digital’. Rio de Janeiro: SBB, 6 ago. 2025. Disponível em: https://sociedadebibliograficab.com/2025/08/06/um-resumo-sobre-o-evento-o-futuro-do-patrimonio-bibliografico-ibero-americano-na-era-digital/.

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