Marcelle Beaudiquez: uma bibliotecária visionária e universal

Após uma carreira inicial na educação como professora, Marcelle Beaudiquez (1943-2019) ingressou na Biblioteca Nacional em 1970 no departamento de Impressos.

A bibliografia acabou se tornando a área de atuação de Marcelle Beaudiquez que trabalhou na Sala de Catálogos e Bibliografias localizada na sala Labrouste do site Richelieu da Biblioteca Nacional da França. Para muitos bibliotecários, seu nome permanece especialmente ligado aos manuais bibliográficos produzidos na continuidade do trabalho da bibliotecária universalista e professora Louise-Noëlle Malclès.

Na Bibliothèque nationale de France, Marcelle Beaudiquez dirigiu o Centro de Coordenação Bibliográfica e Técnica antes de se tornar a atual Direção de Serviços e Redes (DSR). A maior parte da sua carreira foi dedicada à pesquisa, ao registo bibliográficos e à sua distribuição por meio de serviços bibliográficos (bibliografia nacional, catálogos informatizados locais ou coletivos, produtos bibliográficos para bibliotecas). Mas a sua gestão também foi responsável pela entrada de documentos através da gestão do depósito legal, do departamento de conservação e da criação da biblioteca digital Gallica https://bnf.hypotheses.org/8387.

Marcelle Beaudiquez foi uma defensora das Bibliotecas Nacionais, Agências Bibliográficas Nacionais e da Bibliografia Nacional Corrente. À luz do programa Controle Bibliográfico Universal (CBU), ela foi uma universalista fervorosa, quer dizer, defendeu acima de tudo a ética profissional, os direitos humanos e acesso universal ao conhecimento, livre de barreiras, censura e exclusão digital.

Ao elaborar um ensaio de bibliografia das publicações de Marcelle Beaudiquez, o bibliógrafo francês Olivier Jacquot registrou: “Como podemos homenagear os bibliógrafos senão produzindo sua bibliografia?” Essa bibliografia em constante atualização está disponível em: https://bnf.hypotheses.org/8423.

Nós da SBB, gostaríamos de expressar nossa admiração à Marcelle Beaudiquez e a todas as grandes bibliotecárias que, ao passarem por nossas vidas, vão nos deixando exemplos do trabalho universalista que sustenta a Biblioteconomia, a Bibliografia e a Documentação.

Formato Vancouver: a história de um padrão mundial

Por Rodrias

O formato Vancouver é um sistema de referências bibliográficas que é amplamente utilizado em publicações científicas, médicas e de saúde. Ele é caracterizado pelo uso de números arábicos para identificar as referências no texto e por uma lista de referências numeradas no final do trabalho. O estilo foi criado em 1978, durante uma conferência do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE), em Vancouver, Canadá.

A conferência foi organizada para discutir a necessidade de padronizar o sistema de referências bibliográficas em publicações médicas, contando com a participação de editores de revistas médicas, bibliotecários e pesquisadores de todo o mundo. No evento, os participantes discutiram as vantagens e desvantagens de diferentes sistemas de referências bibliográficas e chegaram a um consenso sobre a adoção de um novo sistema, que foi chamado de formato Vancouver.

O formato Vancouver foi adotado por um grande número de revistas médicas e científicas em todo o mundo. Ele é considerado um sistema de referência fácil de usar e bastante preciso.

Este é o manual do ICMJE para a preparação, redação, edição e publicação de trabalhos acadêmicos em periódicos médicos. Ele contém as diretrizes para formatar referências bibliográficas no formato Vancouver.

Sobre liberdade de expressão na Internet

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Nós, da Sociedade Bibliográfica Brasileira, ainda não iniciamos a nossa atuação de forma oficial. Estamos ajustando algumas coisas, mas, em breve, teremos novidades. Entretanto, devido a acontecimentos recentes que consideramos muito graves, resolvemos falar sobre algo que tem esquentado debates nesta rede social: a censura.

Nosso grupo de pesquisa não tem intuito algum de se engajar politicamente. Os coordenadores têm as suas ideologias políticas, todavia esse não é e jamais será o nosso objetivo. Contudo, como as polêmicas recentes estão muito ligadas à informação, sendo bibliotecários em primeiro lugar, decidimos falar um pouco sobre esse assunto delicado e gravíssimo que está circulando por aí.

O Facebook resolveu desativar 196 páginas e 87 perfis de usuários ligados à Direita política. O motivo, segundo a rede social, seria o fato dessas páginas propagarem as famosas “Fake News” e estarem influenciando os usuários de forma negativa. Todavia, a rede social mudou o tom e deu outra desculpa, porém não estamos tão por dentro dessas últimas novidades.

O fato é: o Facebook, aparentemente, excluiu essas páginas apenas por serem páginas de Direita. E, nos últimos dias, vimos diversos usuários comemorando e parabenizando a atitude do Facebook, entre eles acadêmicos, e, principalmente, colegas bibliotecários que não gostam de determinados grupos que faziam parte dessas páginas.

A grande questão é: o que vale mais, combater “Fake News” ou promover censura? Para nós, é óbvio que censurar é muito pior do que propagar notícias falsas. Pois, mesmo sendo uma empresa privada, em suas diretrizes o Facebook se compromete a ser uma rede social de âmbito público e que irá defender a liberdade de expressão de seus usuários. Além disso, ela atua em ambientes estatais, como por exemplo em épocas de eleições, momento em que a rede consegue gerar altos lucros, pois os usuários e grupos, entre estes os que foram desativados, investem dentro do Facebook com o objetivo de terem um maior alcance das pessoas. Portanto, sendo também um produto, o Facebook feriu um direito do consumidor.

Porém, o que mais nos assusta é ver como essa censura foi apoiada por BIBLIOTECÁRIOS. Pois, se lembrarmos do nosso juramento, precisamos preservar o cunho LIBERAL de nossa profissão. Se temos essa missão, então devemos sempre defender a liberdade de expressão!!! Contudo, não é isso que tem acontecido.

Além do mais, apenas páginas de direita sofreram essa censura. Por que não páginas de esquerda? Se formos contar a quantidade de “Fake News” que já lemos em diversas páginas de esquerda nessa rede social, acredito que não caberia em um único post. É vergonhoso defender essa atitude do Facebook. Lembrem-se, o homem possui três direitos naturais: a vida, a propriedade privada e a liberdade. Entretanto, essa rede violou um dos nossos grandes direitos naturais, a liberdade.

Muitas das páginas que foram desativadas alguns de nós conhecíamos. Sinceramente, jamais presenciamos uma notícia falsa vinda das páginas que acompanhávamos. Na verdade, o conteúdo muitas vezes era ótimo, com fontes e dados verídicos. É inadmissível esse movimento que o Facebook vem fazendo desde o escândalo da Cambridge Analytica. Não podemos cruzar os braços diante dessa barbaridade.

Lembrem-se também que as ditaduras totalitárias do século XX utilizaram da censura para controlar as massas e se manter no poder. O historiador Robert Darnton, Diretor da Biblioteca de Harvard, EUA, publicou recentemente um livro intitulado “Censores em ação: como os Estados influenciaram a literatura”. Em um dos capítulos Darnton analisa como autores e editores tentavam burlar de todas as formas o regime comunista totalitário na Alemanha Oriental, pois eles não gostavam da palavra, principalmente quem fosse contra o Governo. Se fossem pegos publicando, eram mortos. Era uma ditadura extremamente violenta, como foi possível observar durante o levante de Berlim, em 17 de junho de 1953. Além disso, sempre que alguma editora autorizada pelo regime iria publicar um livro, este livro deveria ser analisado por censores, se fosse o caso, o livro voltava e a editora deveria fazer modificações que ficassem de acordo com as vontades do regime comunista.

Na verdade, se formos pensar no “modus operandi” desses Governos, a primeira forma de censurar para manter a população alienada aos seus ideais era queimando livros e destruindo bibliotecas. Pode-se identificar esse tipo de situação nos dias atuais, pois é um dos modos de atuação do grupo fundamentalista religioso Estado Islâmico.

Portanto, é grave que, em um ano de uma eleição tão importante para o Brasil (talvez a mais importante de nossa história) o Facebook esteja atuando de uma forma tão totalitária e censurando páginas simplesmente por não concordarem com o conteúdo. Isso precisa acabar! Os bibliotecários que defenderam essa atitude precisam repensar o por que decidiram cursar e se graduar em biblioteconomia, pois por mais que tenham uma ideologia totalmente contrária a essas páginas, é uma atitude vergonhosa apoiar uma censura tão baixa. A democracia, para sobreviver, precisa de liberdade e, principalmente, de verdadeiros debates de ideias.

“Fake News” se resolve de um jeito simples, é só não compartilhar! Já censura, aí o bicho pega mesmo!

Fica essa frase de um dos mais famosos economistas e filósofos do século XX, o austríaco Ludwig von Mises, para nos lembrar que, por mais que não concordemos com a opinião do próximo, devemos defender até a morte o direito do mesmo dize-las.

Obs: ATUALIZAÇÃO!
Em nota, o Facebook afirmou que o motivo da retirada das páginas e usuários do ar não foi por Fake News, mas pelo fato dessas páginas influenciarem a opinião pública, no que acaba gerando discussões dentro da rede. Então, debate de ideias é proibido? Isso só mostra que a medida foi, de fato, censura e um ataque a democracia.

Abs,
Gabriel – Coordenador da SBB.