Educar para libertar: as ideias de Luiz Gama e seus ecos no presente

  

Retrato de Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830–1882)

  Fonte: Acervo do Arquivo Nacional – Fundo Correio da Manhã. Identificador: BR RJANRIO PH.0.FOT.23005 001.

Por Rodrias

Luiz Gama foi uma das figuras mais marcantes da história brasileira no século XIX. Nascido em 1830, vendido como escravizado ainda menino e alfabetizado apenas na juventude, ele se tornou advogado, jornalista, poeta e um dos principais nomes do abolicionismo. Sua vida e seus escritos revelam uma convicção central: a educação é um instrumento de liberdade.

Gama não teve acesso à educação formal. Foi autodidata. Aprendeu a ler com colegas de infância, mergulhou nos livros por conta própria, e usou o que aprendeu para lutar contra a escravidão. Chegou a libertar mais de 500 pessoas com sua atuação jurídica. Em sua famosa Carta ao Filho, ele aconselha: “Instrução e trabalho são os únicos meios de viver honradamente.” Para ele, o saber era mais que um bem pessoal: era uma arma contra a opressão.

Em seus artigos no jornal Radical Paulistano, Gama defendia o papel da palavra escrita como ferramenta de denúncia e transformação. Ele escrevia para o povo, denunciava injustiças e explicava leis. Ao fazer isso, não apenas informava: educava. Acreditava que todos tinham o direito de saber, entender e questionar. Em suas Máximas, afirmou: “A ignorância é o maior auxílio da tirania.”

Mais de 140 anos após sua morte, as ideias de Gama continuam atuais. O Brasil ainda enfrenta sérios desafios educacionais: evasão escolar, analfabetismo funcional e desigualdades regionais. A educação, apesar de garantida constitucionalmente, ainda não chega com a mesma qualidade a todos os brasileiros. Nesse cenário, o pensamento de Luiz Gama serve de base para refletirmos sobre o que significa educar em um país marcado por desigualdades históricas.

Outro ponto essencial no legado de Gama diz respeito ao acesso ao conhecimento. Sua trajetória autodidata se conecta diretamente com a importância das bibliotecas públicas, escolares e comunitárias como espaços de formação crítica, cidadã e autônoma. Se, no século XIX, Gama buscava livros para aprender por conta própria, hoje milhões de brasileiros ainda veem nas bibliotecas um dos poucos caminhos viáveis para o estudo gratuito, silencioso e igualitário. A valorização desses espaços é parte do combate à exclusão cultural — algo que ele, em vida, fez com afinco ao tornar acessíveis os saberes jurídicos por meio da imprensa.

Por isso, ao pensarmos no futuro da educação brasileira, é urgente lembrar que ela precisa ser inclusiva, crítica e baseada na ideia de liberdade. Como Gama bem mostrou, educar não é apenas ensinar a ler e escrever, mas formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Seu exemplo permanece como uma referência ética, intelectual e social para todos que acreditam que o conhecimento é, sim, um ato de libertação.






Referências

GAMA, Luiz. Carta a seu filho. [S.l.]: Wikisource, 1870. Disponível em: https://pt.wikisource.org/wiki/Carta_de_Lu%C3%ADs_Gama_a_seu_filho. Acesso em: 19 abr. 2025.

GAMA, Luiz. Máximas. Disponível em: https://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/11-textos-dos-autores/1591-luiz-gama-maximas. Acesso em: 19 abr. 2025.

GAMA, Luiz. Radical Paulistano. Hemeroteca Digital Brasileira, 1869-1870. Disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/. Acesso em: 19 abr. 2025.