Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvidas, o livro. Os demais são extensões do seu corpo… O livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação. – Jorge Luís Borges.
Essa famosa citação de Jorge Luís Borges representa o caminho de reflexão que eu gostaria de traçar nesse Dia Mundial do Livro: o que esse objeto representa em nossas vidas? Aqui não estou propondo uma definição para o conceito “livro”, até porque isso já foi discutido com certa exaustão. Nosso objetivo é pensar sobre a importância desse objeto no nosso interior, dentro do nosso Ser.
Para além de ser um suporte para escrita e leitura, o livro é algo que alcança o nosso cognitivo. Ele já teve diversos formatos – desde tábuas de argila, papiros e pergaminhos do mundo antigo, passando pelos códices medievais até os impressos da modernidade – sempre mexendo com nosso imaginário, nossa memória, nosso raciocínio, nosso juízo. Como bem argumenta o filósofo Ortega y Gasset, os livros representam uma “forma de vida humana.”
Me recordo que não fui uma criança que lia muito. Apesar de crescer com incentivos à leitura (minha mãe sempre lia alguns contos infantis para mim, como “Os três porquinhos”, “João e o pé de feijão”, entre outros) eu preferia assistir televisão ou estar na rua com os amigos.
Contudo, durante a adolescência tive a vontade de ler “O Código da Vinci” de Dan Brown que estava em alta até então. Apesar de ser uma literatura repleta de sensacionalismos e imprecisões históricas, a obra abriu a minha mente para o gosto pela leitura e para a formação que eu gostaria de ter no futuro. Se hoje sou um bibliotecário e historiador com interesses em história da arte, Dan Brown tem certa influência nisso.
Portanto, foi o livro, por meio da palavra escrita, da literatura, que formou o ser humano que vos escreve nesse momento. Aliás, de certa forma a literatura move nossas vidas. Ela é responsável pelo desenvolvimento de nossa cultura, costumes, ações etc. O livro moldou a nossa história e a nossa civilização, ele nos trouxe para esse momento do tempo presente.
Segundo Martin Puchner, é impossível imaginarmos o nosso mundo sem a literatura; um mundo com livrarias e bibliotecas vazias, sem um livro de cabeceira para lermos à noite quando estamos com insônia. O nosso mundo não seria o que é hoje se não fosse pela literatura. E ele tem razão.
São diversos os personagens e acontecimentos históricos que tiveram a presença do livro e da literatura.
Alexandre o Grande em suas campanhas pelo mundo antigo carregava a “Ilíada” de Homero como um texto fundamental e de inspiração para a sua vida e objetivos; graças a palavra escrita os textos clássicos de filosofia como Platão, Aristóteles e Confúcio chegaram aos dias atuais; foi por meio da leitura e reflexão a respeito do “Manifesto do Partido Comunista” de Marx e Engels que a União Soviética montou as bases dos seus ideais. Por conseguinte, para o bem ou para o mal, a literatura tem uma importância crucial para a construção da nossa civilização.
É isso que o livro faz; ele é capaz de penetrar na nossa mente, de se instalar no nosso Ser, de apresentar resoluções para nossos conflitos internos e externos enquanto indivíduos antagonizados (aqui me refiro ao sentido freudiano do termo “indivíduo”, ou seja, as disputas internas e externas da nossa psique).
Pegar o livro, abri-lo, folhear, ler, refletir, pensar, analisar, escrever. Talvez esse seja um dos maiores prazeres da vida humana.
O historiador francês Roger Chartier nos lembra que o livro é muito mais do que um simples objeto físico, ou seja, eles são produtos provenientes de uma construção social, histórica e cultural.
Eles não são apenas suportes para leitura e escrita, mas fazem parte de todo um “sistema de práticas sociais” que envolve a produção, circulação, leitura e apropriação dos textos.
Chartier afirma que o sentido da palavra escrita não está apenas no que o autor escreveu, mas também em como o leitor irá interpretá-la. E essa leitura irá depender de fatores políticos, sociais, culturais, históricos etc.
Contudo quando analisamos a situação do nosso País, os dados assustam no que diz respeito à leitura. Segundo a 6° edição do “Retratos da leitura no Brasil”, do Instituto Pró-livro, o País de hoje teria, aproximadamente, 93,4 milhões de leitores, isto é, uma redução de 6,7 milhões se compararmos aos quatro anos anteriores. Além disso, de todos os entrevistados, 53% não teriam lido sequer uma obra inteira nos três meses anteriores à pesquisa – são dados alarmantes porque é a primeira vez na história brasileira que podemos concluir que a maioria dos brasileiros não leem um livro sequer.
Além de hoje ser o Dia Mundial do Livro, o Rio de Janeiro foi escolhido como a “Capital Mundial do Livro” no ano de 2025. Esse é um momento chave para tentarmos mudar esse cenário e trabalharmos o incentivo à leitura. Por mais que os livros ainda sejam produtos com um alto valor de aquisição, o Brasil tem uma série de bibliotecas públicas com todo tipo de literatura que podemos imaginar – só a cidade do Rio de Janeiro possui cerca de 31 bibliotecas municipais, por exemplo.
É o momento de bibliotecários, profissionais do livro, intelectuais, profissionais da comunicação etc., atuarem juntos em prol de algo que é essencial para a nossa formação enquanto cidadãos brasileiros.
O intelectual americano Lionel Trilling recorda que a literatura é um recurso essencial para compreendermos a profundidade da experiência humana; ela nos ajuda a viver com as ambiguidades, as incertezas e as contradições da existência. Segundo Trilling, “a função moral da literatura é ensinar a complexidade da vida e a dificuldade das escolhas humanas.”
Referências
BROWN, Dan. O Código Da Vinci. São Paulo: Arqueiro, 2004.
CHARTIER, Roger. A mão do autor e a mente do editor. São Paulo: Ed. Unesp, 2014.
Fonte: Acervo do Arquivo Nacional – Fundo Correio da Manhã. Identificador: BR RJANRIO PH.0.FOT.23005 001.
Por Rodrias
Luiz Gama foi uma das figuras mais marcantes da história brasileira no século XIX. Nascido em 1830, vendido como escravizado ainda menino e alfabetizado apenas na juventude, ele se tornou advogado, jornalista, poeta e um dos principais nomes do abolicionismo. Sua vida e seus escritos revelam uma convicção central: a educação é um instrumento de liberdade.
Gama não teve acesso à educação formal. Foi autodidata. Aprendeu a ler com colegas de infância, mergulhou nos livros por conta própria, e usou o que aprendeu para lutar contra a escravidão. Chegou a libertar mais de 500 pessoas com sua atuação jurídica. Em sua famosa Carta ao Filho, ele aconselha: “Instrução e trabalho são os únicos meios de viver honradamente.” Para ele, o saber era mais que um bem pessoal: era uma arma contra a opressão.
Em seus artigos no jornal Radical Paulistano, Gama defendia o papel da palavra escrita como ferramenta de denúncia e transformação. Ele escrevia para o povo, denunciava injustiças e explicava leis. Ao fazer isso, não apenas informava: educava. Acreditava que todos tinham o direito de saber, entender e questionar. Em suas Máximas, afirmou: “A ignorância é o maior auxílio da tirania.”
Mais de 140 anos após sua morte, as ideias de Gama continuam atuais. O Brasil ainda enfrenta sérios desafios educacionais: evasão escolar, analfabetismo funcional e desigualdades regionais. A educação, apesar de garantida constitucionalmente, ainda não chega com a mesma qualidade a todos os brasileiros. Nesse cenário, o pensamento de Luiz Gama serve de base para refletirmos sobre o que significa educar em um país marcado por desigualdades históricas.
Outro ponto essencial no legado de Gama diz respeito ao acesso ao conhecimento. Sua trajetória autodidata se conecta diretamente com a importância das bibliotecas públicas, escolares e comunitárias como espaços de formação crítica, cidadã e autônoma. Se, no século XIX, Gama buscava livros para aprender por conta própria, hoje milhões de brasileiros ainda veem nas bibliotecas um dos poucos caminhos viáveis para o estudo gratuito, silencioso e igualitário. A valorização desses espaços é parte do combate à exclusão cultural — algo que ele, em vida, fez com afinco ao tornar acessíveis os saberes jurídicos por meio da imprensa.
Por isso, ao pensarmos no futuro da educação brasileira, é urgente lembrar que ela precisa ser inclusiva, crítica e baseada na ideia de liberdade. Como Gama bem mostrou, educar não é apenas ensinar a ler e escrever, mas formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Seu exemplo permanece como uma referência ética, intelectual e social para todos que acreditam que o conhecimento é, sim, um ato de libertação.
Quando pensamos sobre livros, nós bibliotecários buscamos analisar esse item como um objeto material; focamos em representação descritiva e de assunto, características físicas, a etimologia da palavra livro etc. Contudo, nossa proposta de reflexão para hoje é diferente.
Um breve olhar para o bibliotecário do século XXI, percebemos que ele está muito voltado às questões em torno dos elementos dos livros, suas idiossincrasias físicas e na aplicação de novas tecnologias para a melhoria de serviços e produtos – como por exemplo, os debates em torno da Inteligência Artificial para a organização de livros nas bibliotecas, incluindo aí coleções digitais. Portanto, podemos dizer que o bibliotecário pós-moderno está cada vez mais tecnicista.
Logo, ao longo das últimas décadas, bibliotecários já consolidaram a importância de sua tecnicidade, mas têm perdido, talvez, uma das suas principais características: a erudição. Parece que os bibliotecários não conseguem olhar para os livros de outra forma que não seja como simples “objetos materiais”, “suportes para escrita”.
Para além das análises técnicas e das características físicas, os livros representam e carregam as formas de pensar, agir e sentir de uma sociedade; partindo das reflexões sociológicas de Émile Durkheim, o livro pode ser compreendido como um fato social, um produto gerado pelas práticas e relações humanas.
Em uma passagem da obra “O Senhor dos Anéis: as duas torres” de J. R. R. Tolkien, os hobbits Frodo e Sam chegam às escadas de Cirith Ungol, nas montanhas ocidentais de Mordor. Para se afastarem daquele clima de tensão, por estarem num local perigoso, os dois amigos começam a conversar sobre a vida e suas inesperadas aventuras até então.
Durante esse diálogo, Sam afirma: “eu me pergunto se algum dia vamos aparecer em canções ou histórias […] se seremos colocados em palavras, para serem contadas perto do fogo ou lidas em um grande livro com letras vermelhas e pretas, muitos e muitos anos depois”. Aqui temos uma representação do livro que vai além de suas características físicas: o personagem deseja entrar na história, ser lembrado, permanecer na memória.
Por conseguinte, o que me parece é que falta para o bibliotecário do século XXI o olhar para o livro segundo o filósofo espanhol Ortega y Gasset, ou seja, como uma “forma de vida humana”; uma “tremenda realidade humana”.
Essa reflexão de Ortega y Gasset vem desde a filosofia clássica. Na sabedoria socrática, os livros seriam “dizeres escritos”. Essa conceitualização pode ser encontrada no Fedro, um dos mais famosos diálogos de Platão. Nesta obra, Sócrates ensina o jovem Fedro a diferenciar os verdadeiros dos falsos livros.
Os verdadeiros livros seriam aqueles em que o autor teria algo de novo a nos revelar. Por exemplo, o discurso de Lísias, que tanto chamou a atenção de Fedro, segundo Edson Nery da Fonseca, deveria ser “desprezado por sua esterilidade: por não conter em si aquelas sementes que produzem novas sementes em outras almas”.
Portanto, falta para nós, bibliotecários, esse olhar muito mais humano que tecnicista; reflexões que vão além dos problemas de organização das coleções ou dos dilemas tecnológicos que a realidade digital impõe.
De acordo com o intelectual argentino Jorge Luis Borges, os livros são extensões da memória e da imaginação humana. O ensaísta sempre imaginou o paraíso como uma “espécie de biblioteca”. Para Borges, os livros eram como entidades sagradas, janelas para outros mundos e tempos – por onde atuavam os bibliotecários eruditos. Na atualidade, por onde andam?
Este é o primeiro vídeo sobre história bibliográfica literária.
Para a SBB, os estudos bibliográficos da literatura brasileira e internacional é um meio de preservação bibliográfica e lançar luz à memória da literatura.
A primeira biblioteca pública do Brasil foi inaugurada em 1808, em Salvador, Bahia.
Desde a vinda da Corte Portuguesa em 1808 para o Brasil, várias bibliotecas em sociedades, clubes de leitura e escritórios foram instalados.
No Brasil, o berço da Biblioteconomia tem como origem a vinda da família Real, com a instituição da Biblioteca Real, de natureza pública, em 1810.
A década de 1910 foi um marco para a Biblioteconomia brasileira. Em 11 de julho de 1911, o Decreto 8835 aprovou o Regulamento da Biblioteca Nacional e estruturou o primeiro curso de Biblioteconomia brasileiro, iniciado em abril de 1915.
Desde então, História Bibliográfica Literária se tornou uma disciplina fundadora que permanece no curso da Escola de Biblioteconomia da UNIRIO.
Vários temas são interessantes para a Bibliografia e Documentação.
Por exemplo, escritores como Machado de Assis e José de Alencar moldaram a literatura brasileira com suas obras.
O Modernismo, com a semana de arte moderna de 1922, revolucionou a cultura e as artes no Brasil.
A literatura brasileira reflete temas como a diversidade cultural, abordando temas como a identidade e memória social.
A leitura se espalhou pelas classes sociais , influenciando a educação e a formação de opiniões.
Como citar esse artigo:
SEÑORANS ARMADA, Rodrigo; ALENTEJO, Eduardo. A evolução da Literatura Brasileira: fatos e figuras importantes. Rio de Janeiro: SBB, 2025. 1 vídeo on-line. Disponível em: https://youtube.com/shorts/MqpgUbnjEvY. Acesso em: 14 fev. 2025.
No atual estágio da sociedade do conhecimento, há bibliografia para qualquer assunto. Em contextos históricos, as bruxas e suas bruxarias, outrora pagãs, passaram a acompanhar à sociedade ocidental cristã. Seu conhecimento foi transmitido de muitos modos, tal como no berço do Cristianismo, por meio de práticas da Igreja:
O paganismo sobreviveu […] na forma de ritos e costumes antigos tolerados ou aceitos e transformados por uma igreja muitas vezes indulgente, o paganismo passou como sangue materno para a nova religião (Durant, 1950, p. 675).
Em contextos culturais, esse universo prospecta livros e histórias orais como fontes criativas das várias possibilidades para as linguagens literárias e artísticas das quais o trabalho do bibliógrafo prospera. Besterman (1940) nos fornece uma história concisa da Bibliografia tanto como campo de interesse científico quanto testemunho do progresso do conhecimento humano.
Essa história prenuncia críticas contemporâneas em torno da implicação da classificação para acesso, uso e recepção de textos. Consequentemente, por meio dos pensamentos e ideias registradas nos livros, a bibliografia permite revelar os contextos e caminhos históricos pelos quais as várias culturas se encontram, embatem-se e se transmutam.
O assunto bruxa representa esse aspecto quando se pode dimensioná-la em contextos culturais ligados ao imaginário popular e às artes; também de interesse da ciência ou para assuntos religiosos. Respectivamente, esses contextos podem ser examinados em dimensões editoriais, do seguinte modo: entretenimento, científico e devocional.
No campo das bibliografias físicas, por exemplo, as reedições do Malleus maleficarum – tratado elaborado pelos inquisidores Herinrich Kraemer e James Sprenger – foram difundidas pela invenção da imprensa de Gutenberg e é possível acompanhá-lo até os Séculos XVI e XVII, que ainda gozava de prestígio entre os perseguidores de hereges.
Também permite tecer relações e descrições minuciosas sobre os detalhes gráficos e editoriais das sucessivas edições do martelo das bruxas. Além de compará-las, a justaposição dos escritos abre portas para se examinar as mudanças idiomáticas e de sentidos do célebre manual medieval redigido para a caça às bruxas no século XV.
Se no Malleus maleficarum, buscava-se definir e identificar bruxas, no plano das bibliografias intelectuais, é possível acompanhar universos complexos de saberes, práticas e documentos inesgotáveis como em textos, filmes, fotografias, músicas e, atualmente, em websites.
Desde épocas remotas, o paganismo – onde habitam bruxas e bruxarias, feitiços e feiticeiras, seres mágicos e divinos – foi revelado e exposto; surgem mais características que ampliam essas dimensões editoriais – As bruxas de Salem, por exemplo, são prosperadas em várias linguagens, desde a pesquisa acadêmica às suas versões fílmicas, séries televisivas, peças de teatro etc.
Todo esse conjunto, que não cessa de ser ampliado, não só eternizam a bruxa e sua bruxaria como as alimentam com formas, perfis, traços, identidades e memórias que vão sendo salvaguardadas por uma infinidade de bibliografias que, por sua vez, arrolam muitos tipos documentais, do livro impresso ao documento digital.
Uma bibliografia sobre bruxa ou bruxaria também pode interessar às comunidades de Teologia, Filosofia, História, Educação etc. A bibliografia seletiva de Arthur Machen (1888), intitulada Thesaurus incantatus, publicada no século XIX, arrola uma extensa lista de títulos de livro sobre bruxa e bruxaria, acrescentando as designações alquimia, ocultismo e feitiçaria como corolário literário editorial do fenômeno ‘bruxa’.
Tais designações fecundaram a organização de assuntos de bibliografias especializadas sobre o tema. Como identificar bruxas, afinal? Bom, qualquer resposta depende de qual contexto intelectual a bruxa está sendo localizada. No século XX a bibliografia sobre bruxa e bruxaria expandiu-se ainda mais, levando em consideração a diversidade de movimentos culturais que explodiram na época, por exemplo, o movimento New Age, que surgiu em 1960 e teve seu ápice criativo e de difusão entre as décadas de 1970 e 1980.
A literatura, cinema e televisão são linguagens que também contribuíram para o enriquecimento do imaginário popular e das bibliografias sobre bruxas e bruxarias. J. K. Rowling e o fenômeno Harry Potter exemplificam como uma obra livresca, para além de sua produção editorial, contou com uma produção cinematográfica contemplada com sete filmes que foram sucesso de bilheterias. Podemos também citar o seriado A Feiticeira, que contou as aventuras de Samantha, uma bruxa – uma criatura imortal – que desejava viver como uma mulher mortal, dona de casa, cuidando de sua família.
Nesse universo de linguagens culturais, a bruxa e a bruxaria cabem, portanto, na produção editorial em três tipos de literaturas: entretenimento, científica e devocional. A literatura de entretenimento já conta com bruxas em seu repertório desde o Século XVII, com Macbeth (Kerniski; Palma, 2016).
A bibliografia textual anotada, intitulada Shakespeare and the supernatural; a brief study of folklore, superstition, and witchcraft in ‘Macbeth’ […] publicada em 1905 por Margareth Lucy demonstra como a bruxa exercia fascínio na sociedade e os modos como foi tratada por Shakespeare, há muito tempo que a dualidade de suas personagens tem convivido entre nós, sejamos ocidentais ou orientais, estrangeiros ou brasileiros.
A literatura brasileira disponível sobre bruxa e bruxaria, principalmente a de entretenimento, é vasta e até os anos 1970, escritores e folcloristas brasileiros, como Monteiro Lobato, Inezita Barroso, Câmara Cascudo, Franklin Cascaes dentre outros exerceram influência na produção fílmica e televisiva brasileira e em algum alcance na música popular com algumas composições que trazem elementos mágicos atribuídos ou do mesmo universo bruxólico, como nas canções O Vira, do grupo Secos e Molhados, na canção Incompatibilidade de Gênios, de João Bosco e Aldir Blanc, também interpretada por Clementina de Jesus.
Vale o destaque para o acervo de desenhos e pinturas do folclorista Franklin Cascaes, exibido nas décadas 1990 e 2000 no Museu Victor Meirelles (Florianópolis, Santa Catarina). São elementais aéreos como os boitatás, o vampiro e até as bruxas, às vezes voam quando querem. Os elementais terrestres, lobisomens, saci, curupira, caipora e as bruxas que vagam pelos caminhos ermos da Ilha de Santa Catarina. Os elementais aquáticos como as sereias, a boiguaçu que sendo uma cobra também é terrestre e aquática. Neste Universo dominam seres inusitados, convivendo numa harmonia de extrema serenidade (Coelho, [2020], não paginado).
A literatura de entretenimento, romances, novelas, contos, poesias e peças teatrais, por exemplo, têm sido aproveitada para adaptações cinematográficas e televisivas, como a saga Harry Porter e o seriado de TV AFeiticeira. Franklin Cascaes escreveu o livro de contos O fantástico na Ilha de Santa Catarina. Para registrar as mudanças urbanas na ilha de Santa Catarina, o autor evoca uma tradição popular que contava a história da existência de bruxas na ilha.
Com base nesses contos, Paulo Figueiredo adaptou a história para a produção de uma minissérie televisiva, produzida pela extinta Rede Manchete e exibida de 4 de março a 28 de março de 1991 que foi intitulada: a Ilha das Bruxas, tendo Miriam Pires como uma das protagonistas (segundo papel da atriz como bruxa).
A literatura científica se difere da literatura de entretenimento e da literatura devocional pois, tem como objetivo a comunicação científica e não se ocupa de entreter nem sustentar a tradição devocional, religiosamente abordada.
Com isso, os tipos de publicações envolvem além de livros, outras comunicações, como as de origem acadêmica, por exemplo, dissertações e teses de doutorado, ou ainda, artigos científicos publicados em seriados de determinadas áreas do conhecimento, por exemplo, Sociologia, História, Antropologia e Teologia.
Na resenha do livro Tratado da Magia, elaborada por Rui Tavares (2022, não paginado), há a seguinte passagem:
prestes a ser expulso de Frankfurt, Giordano Bruno ditou ‘De magia’ a seu discípulo Jerônimo Besler, entre 1590 e 1591. Nesses dias, não se sabe em quantas sessões, Giordano Bruno começou por percorrer as diversas definições de magia e mago, demonstrando que a magia podia ser uma espécie de conhecimento – uma ciência. Giordano Bruno (Itália, 1548-1600) foi filósofo, escritor famoso por suas prodigiosas memórias, foi dominicano e precursor da ciência moderna. Ele foi acusado de blasfêmia, imoralidade e heresia e queimado vivo. Panteísta, aceitou o sistema heliocêntrico de Copérnico e considerou o universo infinito, tendo em si mesmo causa e princípio e expressando-se por infinitas formas.
Essa passagem demonstra que talvez tivesse sido essa a primeira manifestação do fenômeno bruxa e suas derivações como objeto de interesse científico. Já a dimensão devocional evoca a noção de literatura religiosa que segundo Topan (2020) se refere à coleção de obras literárias baseadas na religião por onde crenças e tradições religiosas são temas ou conceitos presentes na literatura religiosa.
No universo da literatura produzida para os praticantes da bruxaria, bruxas e bruxos, em distintas dimensões, escolas e interesses, escolhem a leitura de acordo com seus objetivos, contudo, o consumo de informação tem uma base estrutural de conhecimento religioso.
O precursor da inserção da literatura devocional pagã no mercado editorial mundial foi o famoso bruxo britânico Gardner, em 1950.
Gardner não podia escrever abertamente a respeito da “Arte” (da bruxaria) porque as antigas “leis contra a bruxaria” ainda permaneciam em voga e ele estaria sujeito a penalidades legais. Consequentemente, ele disfarçou sua obra como ficção e publicou em 1949, um ‘romance’ intitulado Highmagic’s aid, sob o pseudônimo de ‘Scire’. O livro era apresentado como ‘um romance histórico a respeito da Arte e continha até mesmo dois rituais de iniciação, mas não trazia qualquer referência à Deusa (Russell; Alexander, 2019, p. 199).
Outros precursores da bruxaria merecem ser lembrados: Frances Barret, Eliphas Levi, George Pickingill, Charles Godfrey Leland, S. L. MacGregor Mathers, Arthur Edward Waite, Aleister Crowley e Patricia Crowther. De acordo com o livro “A Bruxaria hoje”, de Gerald Gardner, importantes títulos de livros serviram para a abertura do caminho do campo editorial pagão, ao que veio a ser denominado por Wicca e foram eles: “Aradia, o Evangelho das Bruxas”, de Charles Godfrey Leland; “O Ramo de Ouro”, de James Fraser; “A Deusa Branca”, de Robert Graves e o primordial “O Culto das Bruxas na Europa Ocidental” de Margaret Murray.
No Brasil, o grande responsável pela introdução da Wicca em nosso meio foi Claudiney Prieto através do livro “Wicca – A Religião da Deusa”, de 1995 e que até hoje segue guiando diversos leitores e leitoras no caminho do conhecimento acerca da nova religião. A Wicca é definida por Prieto (2015, p. 20) como “uma religião cuja filosofia e prática baseiam-se na celebração da natureza e no culto à Deusa-Mãe, que personifica a própria Terra e o feminino”.
Uma leitura interessante acerca dos fundamentos da Wicca referindo-se como bruxaria moderna ou renascimento da Arte é destacada por Claudiney Prieto (2015) e por Ann Moura (2004). E a incrível biografia O mundo de uma bruxa, de Patrícia Crowther (2000); uma das mais famosas bruxas do Ocidente; amiga e confidente de Gerald Gardner, traz uma profunda história do renascimento da bruxaria.
Na biografia, Crowther (2000) relata o surgimento da Wicca cujo termo teve como propósito inicial marcar a diferença entre a complexa compreensão sobre bruxaria do passado sob a ideia de uma nova bruxaria. Além disso, a autora cita a forma pela qual foi usado nos tempos antigos e fala sobre a sua amizade com bruxas, bruxos e ocultistas da estirpe de Ray Bone, William Gray e Ruth Wynn-Owen.
No entanto, existe um ditado popular famoso no mundo da bruxaria que diz: “Todo wiccano é um bruxo, mas nem todo bruxo é um wiccano.” Isto prova que apesar da importância da Wicca, a bruxaria por si só não é apenas Wicca, ou seja, a Wicca é uma das diversas vertentes existentes na Bruxaria. Na dimensão editorial devocional, a Bruxaria pode ser compreendida como uma arte e prática religiosa, e como tal demanda tempo e dedicação para o desenvolvimento espiritual; e devocional quanto se busca o conhecimento e o potencial de ser um ser humano em busca da sabedoria e comunhão com a natureza.
A bruxa e sua bruxaria são percebidas como fenômenos culturais cujos sentidos foram e continuam sendo construídos de muitos modos, principalmente, em decorrência da popularização do livro, desde a concepção da imprensa de tipos móveis por Gutenberg aos dias atuais com os recursos da Internet.
E dependendo da origem editorial que as materializam, suas lembranças e memórias se ancoram nas páginas de livros que embalam os corações de crédulos e incrédulos. E em várias faces literárias, elas surgem ora como objeto científico ora como artistas ou protagonistas de entretenimento ao público; no entanto, sempre, de alguma forma, elas tanto são cultuadas quanto cultuam, devotadamente, a imaginação humana.
Ao pensar em uma organização para essa complexa relação editorial, esse universo cultural pode ser compreendido quando para percebê-las se torna possível justapô-las por tipo de literatura que as revelem. Por isso, para melhor responder como identificar bruxas – já que se estão em todas as partes– é consultar uma bibliografia. Obrigada pela leitura.
Referências
BESTERMAN, T. The beginnings of systematic bibliography. 2nd Ed. Nova York: Burt Franklin, 1940.
MOURA, Ann. Origens da bruxaria moderna: a Evolução de uma religião pelo mundo. São Paulo: Gaia, 2004.
PRIETO, Claudiney. Wicca: A Religião da Deusa. São Paulo: Alfabeto, 2015. Edição Comemorativa de vinte anos.
RUSSELL, Jeffrey B.; ALEXANDER, Brooks. História da Bruxaria. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2019.
TAVARES, Rui. Tratado da magia, de Giordano Bruno. [Resenha]. São Paulo: Martins Fontes, 2022.
TOPAN, Juliana de Souza. “Anjos e demônios estão em guerra”: o fantástico e o religioso na literatura para jovens adultos. Teoliterária, São Paulo, v. 10, n. 22, p. 256-274, 2020. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/teoliteraria/article/view/46406. Acesso em: 29 jun. 2024.
Entre os anos 1920 e 1970, muitos inventários do folclore brasileiro foram tecidos. Maria Amália Corrêa Giffoni, Franklin Cascaes, Oneida Alvarenga, Mário de Andrade, Arthur Ramos, Maria Conceição Vicente de Carvalho, Luís Cristóvão dos Santos, Luís da Câmara Cascudo, Gustavo Barroso, Saul Alves Martins são alguns nomes de folcloristas que revelaram nossa riqueza cultural e cujos estudos foram imortalizados em sucessivas bibliografias, tais como: Bibliografia do folclore brasileiro (Nascimento, 1971), Bibliografia do folclore brasileiro (Colonelli, 1979) e O folclore no Brasil (Magalhães, 2019).
Mas o que se pode compreender por folclore brasileiro espelha conjuntos de fenômenos socioculturais conexos à formação do País e que abarcam muitos elementos: geografias, migrações, origens, interações, contextos, linguagens, folguedos, manifestações, saberes etc. Uma breve consulta às bibliografias supracitadas nos permite dimensionar que a natural formação multicultural do Brasil baliza nosso sentimento de pertencimento nacional.
Aqui, pondero que natural tem o sentido de interações, embates e trocas sociais ocorridas ao longo do tempo, cujos pontos de origem são difíceis de serem rastreados e se opõe à ideia de artificial da qual grupos humanos são intencionalmente introduzidos em uma dada localidade com vistas a se obter resultados multiculturais.
Se por um lado, identidades e saberes tradicionais resistem aos tempos de desapropriação cultural, por outro, agendas estrangeiras lhes buscam rapinar saberes, aforando-lhes esquecimentos no lugar de memórias, principalmente, por meio da aculturação em massa, fenômeno que se diferencia da dinâmica da cultura (Santos, 2009). Para compreender este e outros fenômenos acerca da cultura, recomendo a leitura do livro O que é cultura (Santos, 2009) da Coleção Primeiros Passos.
Mas quais atividades as comunidades tradicionais hoje podem desempenhar para se contrapor às forças de desapropriação de suas tradições? Quais aparelhos culturais lhes apoiam? Em localidades onde as manifestações populares são evidentes, aparelhos culturais como bibliotecas e atividades como turismo costumam oferecer apoios para as comunidades.
Bibliotecas são janelas para o mundo, espaços de comunicação social, de descobertas e tal como ocorre com o folclore, são constituídas de redes de cooperação capazes de provocar mudanças no seio da sociedade. No decorrer do tempo, bibliotecas brasileiras desenvolveram competência cultural, isto é, a capacidade de refletir, apoiar e promover a diversidade cultural e linguística de uma região ou nação (Hanley, 1999), tornando-se espaços de diálogos multiculturais para a cidadania ativa (Alentejo; Señorans; Matos, 2018). Como as bibliotecas devem atender a diversos interesses humanos em suas comunidades, elas funcionam como centros de aprendizado, cultura e informação (IFLA/UNESCO…, [2019]).
Ao representar a diversidade cultural, serviços bibliotecários são impulsionados pelo seu compromisso com os princípios de liberdades fundamentais, de igualdade de acesso à informação e ao conhecimento para todos, no respeito pelos valores sociais das comunidades que atendem (IFLA/UNESCO…, [2019]).
Em 2024, é urgente saber, com profundidade, como as bibliotecas brasileiras estão colocando em prática esse compromisso. Um exemplo pode ser destacado. Em 2021, em uma cidade rural do Estado do Rio de Janeiro, testemunhei que uma associação de artesãs em colaboração com a biblioteca distrital teceram uma bibliografia sobre artesanato tradicional visando atender às consultas da comunidade.
Quando se olha a história das bibliografias, pode-se inferir que o caminho da organização do conhecimento tem seu percurso do local para o nacional e deste para o internacional; rumo à universalidade do conhecimento.
E com o atual estágio de desenvolvimento da Internet, isso está mais evidente. Os versionamentos Web têm sido aplicados para descobertas de localidades, suas culturas, meio ambiente e saberes. As facilidades da Internet permitem tirar comunidades tradicionais das sombras para a visibilidade, com alcance mundial. E acompanhando a essas oportunidades, bibliotecas e outros aparelhos culturais também vão sendo divulgados na Web.
Sob os mesmos preceitos de direitos humanos, competência cultural e sustentabilidade que os guiam, o turismo e a informação turística na Web têm oferecido vantagens para as pessoas encontrarem as diversidades culturais, possibilitando aos internautas explorarem oportunidades de viagens. Por meio de plataformas digitais e recursos de localização, nunca foi tão fácil buscar e acessar informações sobre destinos e viagens.
De certo, há vários canais e perfis nas plataformas digitais que oferecem serviços de informação em turismo, como são os inúmeros exemplos encontrados sobre turismo rural e ecológico – também denominado como ecoturismo (Brasil, 2010), constituindo-se como guias de viagens assim como sítios Web especializados.
Vale destacar que entre 1965 e 2014, o Guia 4 Rodas, publicado pela Editora Abril, exercia a função de guia de viagens, impresso, para viajantes motorizados com indicações de hotéis, restaurantes, rodovias, passeios, escolas, parques, hospitais e outros pontos de referências como festividades e eventos populares (Mazolla, 2014) e por todo esse período foi o guia de referência para viajantes.
Recentemente, descobri o canal Boa sorte viajantes, https://www.youtube.com/@BoaSorteViajante, na plataforma YouTube, por meio de seu vídeo intitulado Milho Verde, um charmoso vilarejo de Minas Gerais! (MILHO verde… 2023). O que aprendi? Milho verde é um povoado localizado na Serra do Espinhaço, entre as cidades históricas de Serro e Diamantina, na região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais; local de nascimento de Xica da Silva e tem o turismo como a principal atividade econômica. Recentemente foi fundada a casa dos livros Sempre-Viva Editorial (MILHO verde… 2023).
No vídeo, aos onze minutos, há um depoimento de uma das moradoras, de origem quilombola (Quilombo do Baú): depois de quarenta anos no povoado, o turismo melhorou sua vida e da comunidade. Antes, ao contrário, passava-se fome e escassez.
O título Comida com histórias, com lembranças é uma frase dita pelo mentor do canal no YouTube durante sua interação com a moradora. Essa frase foi escolhida para este artigo exatamente porque expressa a mensagem que destaco: acessar à cultura do outro por meio de suas manifestações e memórias nos permite também compartilhar as nossas. No Brasil multicultural, cultura e comunicação devem acontecer em mão-dupla.
De acordo com a segunda edição sobre turismo rural, emitido pelo Ministério do Turismo (Brasil, 2010, p. 11), o turismo rural e ecológico tem papel de sustentabilidade importante para as comunidades locais:
[…] a sociedade vem descobrindo a importância ambiental e o valor estratégico de manutenção da paisagem rural, e passa a tratar rios, fauna e flora como elementos essenciais para o ser humano. Este contexto tem propiciado a revalorização do modo de vida e o surgimento de novas funções econômicas, sociais e ambientais para o espaço rural, permitindo ao agricultor novas maneiras de garantir sua permanência no campo.
Quando aparelhos culturais e turismo são instituídos numa localidade, como em Milho Verde, tornam-se aliados para as estratégias de organização das comunidades. Para tanto, saneamento básico, saúde primária e cidadania devem lhes anteceder e acompanhar (Brasil, 2020). Se o turismo baseado em sustentabilidade tem o poder de transformar vidas, orientando-se pela competência cultural, bibliotecas são espaços sociais por onde organizações de pessoas tem a possibilidade de articular estratégias de enfrentamento à cultura de massa.
Diante das manifestações culturais locais, principalmente, em áreas rurais e ecológicas, turismo e biblioteca costumam apoiar o desenvolvimento das cidades e povoados interioranos e insulares, por exemplo; tornando-se, desse modo, instituições de pertencimento público e espaços de integração entre moradores e visitantes.
Municípios sem bibliotecas ou com seu número insuficiente são susceptíveis à corrupção de seus governantes e, como consequência, sua população estará entregue à miséria, à fome e à limitação de direitos humanos e cidadania. E ao contrário do que foi reportado sobre a declaração da ministra do Meio Ambiente em DAVOS, de que 120 milhões de pessoas passam fome no Brasil (Guzzo, 2023), penso que a medida de miséria no Brasil deveria ser dimensionada pela quantidade de bibliotecas e o quanto o turismo sustentável é estimulado e contribui para as comunidades e ecologia dos saberes tradicionais.
Afeto, resiliência e união das comunidades são energias potenciais para mudar realidades por meio de estratégias de organização, de memórias, identidades e conhecimento divulgado. Bibliotecas e Turismo são aliados que nos ofertam oportunidades com histórias, com lembranças, tanto para quem fica como para quem vai.
Referências
ALENTEJO, Eduardo; SEÑORANS, Rodrigo; MATOS, Elesbão. Multicultural libraries: diversity is our strength. QQML Journal, [S.l.], v. 7, n. 1, p. 15-22, 2018. Disponível em: https://qqml-journal.net/index.php/qqml/article/view/453. Acesso em: 4 jun. 2024.
COLONELLI, Cristina Argenton. Bibliografia do folclore brasileiro. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1979. 294 p. (Col. Folclore, n. 19).
MILHO verde, um charmoso vilarejo de Minas Gerais! Direção e produção: Matheus Boa Sorte. 1 vídeo on-line (ca. 28 min), 2023. Disponível em: https://youtu.be/UoFlL8jbJ08?si=Ll3Vz8AwGXNFO6TH. Acesso em: 2 jun. 2024.
NASCIMENTO, Braulio do (org.). Bibliografia do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Divisão de Publicações e Divulgação, 1971. 353 p.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2009. 89 p.
Como citar esse artigo:
ALENTEJO, Eduardo. Comida com histórias, com lembranças… Rio de Janeiro: SBB, 2024. Disponível em: . Acesso em: 4 jun. 2024.
Desastres naturais assim como doenças, conflitos e guerras acompanham a humanidade. O grande dilúvio reportado pela Bíblia é uma das histórias mais antigas de eventos devastadores. As ciências naturais revelam outros que foram e continuam capazes de modificar nosso planeta em sucessivos processos de mudanças climáticas e geológicas. Ao longo da história, muitas vidas foram ceifadas – vidas são frágeis, vidas importam.
Nos percursos catastróficos, continuamos carentes de informação fidedigna, de governos realmente honestos e justos. Em momentos de crises, o socorro emanado pelas próprias comunidades traduz a essência fraterna da humanidade – ainda que a crueldade se infiltre, eventualmente. Desde o dia 27 de abril de 2024, cidades do Rio Grande do Sul foram sucessivamente inundadas por chuvas torrenciais (Guimarães, 2024). Em meio a ausências de políticas suficientes de prevenção ou para rápidas respostas aos desastres, vale celebrar as vidas que foram salvas. Mas se a sociedade também é feita de memórias, como as pessoas reencontrarão seus lares, suas lembranças, seus afetos, seus amores, seus álbuns de retrato etc. diante de perdas e dores? Como reconstruir seus jardins, suas ruas, suas praças, seus arquivos, suas bibliotecas?
Os pontos que gostaríamos compartilhar com nossos leitores são: ajuda humanitária e cooperação para o desenvolvimento como primeiras respostas a estes acontecimentos. A ajuda humanitária visa aliviar os efeitos imediatos de catástrofes naturais (como enchentes e terremotos) e humanas (como guerras e conflitos violentos), sendo normalmente de pouca duração, terminando quando se dá um aliviamento da situação. A cooperação para o desenvolvimento tem finalidades de longo prazo, procurando alterar estruturas sociais e econômicas de países e regiões, de forma a combater problemas de origem bastante complexa.
Nessa postagem, trazemos um exemplo do qual grupos civis atuaram como socorristas, em ajuda humanitária e cooperação em um evento de inundação. Em 1966, o Rio Arno transbordou e a cidade de Florença, na Itália, foi devastada: os guardas municipais, bombeiros, militares e muitos cidadãos se disponibilizaram para salvar vidas que as águas do rio teimavam em levar (Oliveira, 2019).
O cineasta Franco Zeffirelli esteve na cidade na ocasião e realizou o documentário intitulado Florence: Days of Destruction, e registrou que os cidadãos lamentavam a perda de vidas e tentavam salvar o que podiam do aumento da água, do óleo usado para aquecimento e da lama.
No dia 4 de novembro, as inundações mais devastadoras da história da Itália varreram um terço do país. A mais atingida foi a cidade de Florença, com a sua arte de valor inestimável. As perdas em Florença são as piores que se pode imaginar depois das perdas de vidas humanas. Porque as imagens da nossa própria civilização estão se perdendo, afirma o apresentador e narrador Richard Burton no início do documentário. Franco Zeffirelli e eu [Richard Burton] decidimos testemunhar estes dias em Florença. […] o documentário mostra a violência repentina das enchentes, as águas subindo, expandindo, a corrente ficando mais forte, tornando-se torrencial (Florence…, 1966, transcrição e tradução nossa).
Vale destacar que monumentos, obras de arte e acervos bibliográficos foram soterrados na lama, incluindo a Biblioteca Nazionale de Florencia (Alentejo, 2023, p. 215). Nesse evento, civis tentaram amenizar os problemas causados pelas cheias, incluindo uma multidão de jovens voluntários de várias nacionalidades, chamados “os anjos da lama”, atuando desde o salvamento de pessoas quanto dos artefatos da memória artística e bibliográfica do berço do Renascimento:
As pessoas estão isoladas, encalhadas, indefesas. E então, com um esforço incrível, a vida recomeça. As pessoas ajudam-se umas às outras e depois chega ajuda de todo o mundo. A cidade está desolada, os danos são vastos e ainda incalculáveis. A grande herança artística de Florença foi devastada por suas pinturas, esculturas, livros e afrescos de valor inestimável. A Biblioteca Nacional foi invadida pela água e grande parte do seu grande acervo perdido para sempre, toda a igreja de Santa Croce foi invadida pela água e seus tesouros cobertos de lama e óleo. Centenas de pessoas trabalham dia e noite aqui em Santa Croce, diz um voluntário americano, procurando coisas, removendo, tentando salvar, cavando, limpando. Não eram mãos experientes, eram voluntários, soldados, estudantes, jovens de todo o mundo. Mas ninguém poderia ter trabalhado com mais cuidado e amor, apesar das péssimas condições, do cansaço, do cheiro de lama, do frio (Florence…, 1966, transcrição e tradução nossa).
O documentário Florence: days of destruction foi lançado menos de um mês após o desastre e teria arrecadado recursos dedicados aos esforços de reconstrução de Florença (Suesz, 2023, tradução nossa). Ao assistirmos o documentário, podemos perceber o poder das comunidades que unidas pela fraternidade envolveram outros grupos humanos nacionais e internacionais em torno da ajuda humanitária e cooperação da qual se estendeu por anos nas possibilidades de restauração de bens patrimoniais, da assistência à saúde dos sobreviventes e da recuperação da memória coletiva (1966 Florence…, 2019).
A eterna batalha contra o esquecimento do passado se iniciou desde a enchente em Florença; parcos recursos federais foram destinados à reconstrução da cidade e com isso, a constatação de que se não fossem a ajuda humanitária e a cooperação de civis unidos, vidas, suas memórias e suas culturas seriam mais afetadas pelo desprezo político dos governantes ao seu povo, a suas vidas e aos seus aparelhos culturais.
Vários planos foram propostos para resolver a situação ao longo dos 50 anos; e muitos livros foram escritos sobre as inundações, que foram adquiridos pelo centro de documentação de inundações, do CEDAF, tornando a inundação do Arno talvez uma das inundações mais bem documentadas de todos os tempos. Mas, tal como acontece com tantos perigos de inundação, com o tempo torna-se cada vez mais fácil esquecer a preparação para a próxima inundação (Suesz, 2023, tradução nossa).
Em relação ao patrimônio cultural diante do que ocorreu em Florença, a comunidade internacional se mantém atenta à segurança do patrimônio cultural universal diante de conflitos armados e desastres naturais que podem fazer desaparecer em pouco tempo os ícones culturais da civilização humana (Mattar, 2012).
Muitas convenções de alcance internacional foram formalizadas visando fornecer cobertura para proteção internacional aos bens culturais. Alentejo (2017, p. 922, tradução nossa) destacou, por exemplo: Convenção para a Proteção de Bens Culturais em Caso de Conflito Armado (Convenção de Haia, 1954), Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Cultural e Natural Mundial (1972) e Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Folclore de 1989.
Em 2001, a 31ª Conferência Geral da Unesco foi impactada pelo ataque terrorista ocorrido nos Estados Unidos em 11 de setembro daquele ano, resultando na Declaração Universal da Unesco sobre Diversidade Cultural (UNESCO, 2012, não paginado, tradução nossa).que reafirmou a natureza universal dos bens culturais humanos do seguinte modo:
[…] o reconhecimento internacional de que bens e serviços culturais não devem ser considerados mercadorias ou bens de consumo. Essa afirmação parte do entendimento de que as sociedades são vetores de identidade, valores e significados, e, portanto, os direitos culturais são universais, indivisíveis e interdependentes.
Em relação às bibliotecas, sabemos que não são mais os únicos pontos de acesso à informação. No entanto, continuam a ser instituições importantes para diversas questões sociais, tais como fins culturais e educacionais e salvaguarda da memória coletiva. Nem tudo está ou estará em formato digital; nem tudo estará disponível para acesso total com base em redes digitais (Oppenheim; Smithson, 2008).
Estes fatores têm exigido constante questionamento destes equipamentos culturais procurando repensar o seu papel na sociedade atual. A literatura relata iniciativas bem-sucedidas que permitem prever um futuro brilhante para as bibliotecas. Mas, no caso de forças externas incontroláveis, como desastres naturais, tanto a sociedade como as bibliotecas tendem a sofrer o peso dos seus efeitos, com poucas oportunidades de se defenderem (Alentejo, 2017, p. 216, tradução nossa), contando somente com o poder das comunidades para ajuda humanitária e cooperação.
É preciso que todos nós contemos as histórias dessas comunidades: desde a emergência ambiental ao salvamento de vidas – fundamental e incondicional. Também devemos dar atenção aos processos de recuperação das regiões e empregos afetados, sem perdermos de vista os patrimônios culturais. No contexto das tragédias no Rio Grande do Sul, nós bibliotecários podemos contribuir de muitas formas. Por exemplo, a Escola FEBAB está com “inscrições abertas para workshops e palestras em prol dos colegas do Rio Grande do Sul”. São vários cursos e workshops on-line destinados à formação e aprimoramento técnicos na área da Biblioteconomia https://febab.org/2024/05/18/acoes-de-formacao-da-escola-febab-sos-biblioteconomia-rio-grande-do-sul/.
Os valores arrecadados serão transferidos para o Fundo de ajuda humanitária e cooperação instituído pela Associação Rio-Grande de Bibliotecários com o apoio da FEBAB. Dentre as várias oportunidades de aprendizado e aperfeiçoamento oferecidos, também indicamos o seguinte:
Ministrantes: Andréia Wojcicki Ruberti, Coordenadora do Laboratório de Conservação Preventiva da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP. Nathalie Zavagli, Bacharel em Biblioteconomia pela USP. Estagiária do Laboratório de Conservação Preventiva da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP.
Resumo: O workshop sobre resgate de obras de acervos em emergências com água tem por objetivo apresentar técnicas de regate e primeiros socorros para obras atingidas por água de chuvas, inundações, entre outros, auxiliando profissionais que atuam em bibliotecas, arquivos e museus a resgatar e iniciar os primeiros procedimentos de salvamento e recuperação de livros, documentos, multimeios e outros suportes de informação.
“[…] nas mãos de bibliotecários, o poder é a capacidade de fazer para as nossas comunidades e, finalmente, a nossa sociedade, um lugar melhor” (Lankes, 2011, p. 80). Em nossa condição humana, a compaixão demonstrada é dever de nossa essência e motivo de nossa existência. A ética profissional nos impulsiona a fortalecer nossa profissão e a consolidar nossas atividades e bibliotecas como aparelhos culturais essenciais para nossas comunidades, principalmente àquelas atingidas pelas enchentes na região sul do Brasil. Obrigado por sua leitura.
ALENTEJO, Eduardo da Silva. External issues affecting Libraries: an interaction in International and Comparative Librarianship. QQML Journal, [Limerick], v. 5, n. 4, p. 913-925, July 2017.
FLORENCE: days of destruction. Direção: Zeffirelli Franco. Narração: Richard Burton. Roteiro: Bruno Colombo. Música: Vlad Roman. Produção: Brice Howard. Entrevista: Frederick Hartt. Roma: RAI – Radiotelevisione italiana, 1966. 1 videotape (50 min), son., P&B.
LANKES, R. David. The Atlas of New Librarianship. Cambridge: Mit Press, 2011.
MATTAR, Eliane. Legislação patrimonial. In: SILVA, Maria Celina Soares de Mello e (org.). Segurança de acervos culturais. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2012. p. 33-52.
Building a National Bibliography: Models from Around the World
Frameworks and foundations of National Bibliographies
Por Eduardo Alentejo
O primeiro Webinar da IFLA, da seção Bibliografia, ocorreu em 30 de abril de 2024. Gabriel Alves e eu apresentamos nosso trabalho intitulado Current Brazilian Bibliography in the Digital Era – Bibliografia Brasileira Corrente na Era Digital. Quatro apresentações, incluindo a nossa, foram escolhidas pelo comitê de avaliação da IFLA por entenderem as contribuições que cada trabalho provia para garantir a qualidade do tema Marcos e fundamentos das Bibliografias Nacionais (tradução nossa) https://www.ifla.org/events/webinar-building-a-national-bibliography-models-from-around-the-world-registration/.
Nesta oportunidade, nós abordamos os elementos fundadores para a transformação disruptiva desenvolvida pela nossa Agência Bibliográfica Nacional que organiza e disponibiliza os registros bibliográficos oficiais de nossa bibliografia corrente e com economia de energia e recursos.
Destes elementos, destaco aqui o desenvolvimento do Formato CALCO de catalogação legível por computador que proporcionar uma ampla rede de cooperação em catalogação que foi denominada BIBLIODATA e liderada pela Fundação Biblioteca Nacional. Outro elemento destacado foi com a concepção da BNDigital, versão digital da Biblioteca Nacional Brasileira cujo portal oferece a oportunidade de acessar dados bibliográficos do catálogo on-line bem como da bibliografia brasileira.
Também destacamos a arquitetura do atual sistema de controle bibliográfico brasileiro. As possibilidades de padronização bibliográfica somadas às tecnologias de transmissão e compartilhamento de informações por meio de protocolos e formatos caracterizam o modelo brasileiro vigente do controle bibliográfico nacional.
Nosso leitor, poderá assistir ao vídeo com a apresentação no trabalho:
Concluímos que a produção, organização e divulgação da bibliografia brasileira, a cargo da Fundação Biblioteca Nacional, apresenta um modelo distinto de muitos países. Primeiro porque na mesma interface de buscas e recuperação da informação é possível realizar pesquisas em ambos os produtos – catálogos e bibliografia nacional; segundo porque a aplicação de tecnologias, de modo inovador, permite o acesso universal aos registros bibliográficos, livres de barreiras e de acesso gratuito seja por máquinas convencionais ou telefonia móvel na Web.
A participação da SBB foi importante para dar visibilidade a um tema pouco explorado nos meios de comunicação científica no País. Além disso, a SBB celebrou nossa Biblioteca Nacional, seus profissionais e a sociedade brasileira. Somos muito gratos à IFLA por esta oportunidade.
Deixamos aqui á disposição dos interessados os slides que apresentamos para consultas, lembrando que destaques de nosso texto devem ser devidamente citados.
A Biblioteca de Alexandria renasceu em outubro de 2002 para recuperar o manto de seu antigo homônimo.
Não é apenas um edifício de extraordinária beleza; ela também é um vasto complexo onde a arte, história, filosofia e ciência vêm juntos. Além disso, as inúmeras atividades que oferece fizeram-lhe um lugar aberto para a discussão, diálogo e entendimento https://www.bibalex.org/en/default.
O horizonte imperial da antiga Biblioteca de Alexandria rapidamente se expandiu para um escopo universal, tal como se refletia em sua coleção de livros para além do reino de seus governantes.
No Século III, a.C., por ordem de Ptolomeu Philadelphus, o poeta e bibliotecário Callimachus em Alexandria compilou o catálogo com as mais importantes obras da Biblioteca chamado Pinakes, ordenado com 120 assuntos.
Graças à imprensa de Gutenberg, a ideia de conhecimento universal trazida pela Biblioteca de Alexandria foi difundida pelo poder do livro impresso e, desde o final da Idade Média, encontrou expressão também em ideais de uma bibliografia universal, como a obra Bibliotheca universalis de Conrad Gesner, de 1545.
O ideal de universalização do conhecimento foi intensificado no Século XIX, com o Répertoire bibliographique universele de Paul Otlet e Henry La Fontaine, refletindo-se, por exemplo, em acordos internacionais formais para o intercâmbio de publicações entre instituições de diferentes países.
A Nova Biblioteca de Alexandria dedica-se a recuperar o espírito de abertura e erudição da Bibliotheca Alexandrina original. É muito mais que uma biblioteca.
Essa concepção está alicerçada pilares universalistas. O papel único da Biblioteca de Alexandrina centra-se em quatro aspectos principais, que procuram recapturar o espírito original da antiga Biblioteca de Alexandria. A nova Biblioteca de Alexandria aspira ser:
A janela do mundo para o Egito. A janela do Egito para o mundo. Uma instituição líder da era digital. Um centro de aprendizagem, tolerância, diálogo e compreensão.
Além de integrar museus, bibliotecas universitárias e de arte do país, sua estrutura organizacional é composta por: a Biblioteca Principal (que pode conter até milhões de livros) e suas bibliotecas afiliadas: a Biblioteca Francófona, a Biblioteca Depositária e a Biblioteca de Mapas https://youtu.be/nwaBKZoWVgs?si=FulYut24RETfirnZ.
Também integra, desenvolve e administra seis bibliotecas especializadas:
A Biblioteca de Artes e Multimídia A Biblioteca Taha Hussein para deficientes visuais A Biblioteca Infantil A Biblioteca dos Jovens A seção de troca e arquivo Biblioteca de livros raros e coleções especiais
A Biblioteca Alexandrina pretende ser: um centro de excelência na produção e difusão de conhecimento e ser um local de diálogo, aprendizagem e compreensão entre culturas e povos https://www.bibalex.org/en/Page/About.
Uma biblioteca nacional é criada por um determinado governo de uma nação para servir como repositório preeminente de informações, memória e patrimônio bibliográfico nacional, refletindo a história e cultura nacionais de seu povo.
Na voz da Federação Internacional de Associações e Instituições de Bibliotecas – IFLA, bibliotecas nacionais são as guardiãs do património cultural nacional de um país. Recolhem, preservam e disponibilizam a história de um país a todos os seus cidadãos e abrem uma janela sobre esse país a pessoas de todo o mundohttps://www.ifla.org/units/national-libraries/.
Ao contrário das bibliotecas públicas e especializadas, raramente permitem empréstimo domiciliar. Frequentemente, suas coleções e acervos incluem inúmeras obras raras, valiosas ou significativas, tanto em termos de exclusividade quanto de obras que registram a história de uma nação.
As bibliotecas nacionais são notáveis pelo seu tamanho e oferta de serviços de informação, liderança em serviços nacionais de documentação, funcionar como agência bibliográfica nacional (ABN), coordenação de redes de bibliotecas e desenvolvimento de catálogos coletivos, locais e nacionais. Em suas origens, em geral, bibliotecas nacionais com funções de ABN estão intimamente ligadas, no passado, àquelas do depósito legal e de aquisições de monarcas bibliófilos e indivíduos ricos.
Algumas bibliotecas nacionais podem ser temáticas ou especializadas em alguns domínios específicos, ao lado ou em substituição da biblioteca nacional “principal”. São exemplos disso: National Library of Medicine (EUA) https://www.nlm.nih.gov/ e a Biblioteca Nazionale Centrale dei Firenze (Itália) que é uma biblioteca pública nacional e uma das duas bibliotecas nacionais centrais da Itália.
Muitas bibliotecas nacionais cooperam no âmbito da Secção de Bibliotecas Nacionais da IFLA para discutir as suas tarefas comuns, definir e promover padrões comuns e realizar projetos que as ajudem a cumprir os seus deveres com base na cooperação regional e internacional.
A Secção de Bibliotecas Nacionais da IFLA apoia as bibliotecas nacionais na melhoria dos seus serviços, gerando discussão sobre temas de interesse estabelecidos e emergentes: depósito legal; catalogação e preservação; digitalização e serviços digitais; disseminação de dados e mineração de dados; a prestação de serviços centrais comuns (por exemplo, serviços de referência, bibliografia, preservação, circulação, pesquisa bibliográfica) a seus usuários e bibliotecas no seu território nacional; e a promoção da defesa da língua e da política cultural nacional.